Da Família (2012-2014) / Like Family (2012-2014)

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Vídeo
Duração 8 min

O Brasil é o país com maior número de empregadas domésticas do mundo, quase 7 milhões de trabalhadoras, cuja rotina de trabalho só recentemente, com a chamada PEC das Domésticas, projeto que regulamenta os direitos da categoria, ocupou o centro das discussões na sala de estar.

Historicamente desconsideradas como classe trabalhadora, ao ser agregadas como “parte da família”, as domésticas atualizaram por muito tempo as noções da casa-grande e da senzala em milhares de lares brasileiros. As desigualdades e as frágeis relações que atravessam o cotidiano dessas mulheres e de seus patrões são tema da obra Doméstica, de André Penteado. “Interessado em investigar esse assunto, procurei no YouTube vídeos a respeito. Realizando buscas utilizando as palavras ’empregada’ e ‘domésticas’, coletei um total de 14 horas de imagens que incluíam programas de TV aberta, vídeos de recrutamento e treinamento de domésticas, além de vídeos pessoais”, conta o artista.

O primeiro resultado desse processo é um filme de oito minutos no qual a mescla de imagens de novelas, telejornais, game shows e programas de entrevistas compõe um discurso movediço que revela, sob a óptica das classes dominantes, uma imagem da doméstica oscilante entre o preconceito, o estereótipo e a ingenuidade. Trata-se de questionar a posição e, por que não?, o imaginário em torno dessa categoria na paisagem cultural brasileira.

Sobre o processo de feitura da obra, o artista explica: “Para despersonalizar o vídeo as imagens foram desfocadas – o que acaba por exprimir certa ideia de miopia social – e sua velocidade foi diminuída em 50%. Esse processo fez com que a voz dos personagens ficasse arrastada, causando um efeito cômico e, ao mesmo tempo, desconfortável”.

O trabalho de André Penteado é marcado por temas como o suicídio, a migração, a política e a sociedade. Suas obras já foram exibidas no Reino Unido. e na Argentina e, em 2013, recebeu o Prêmio Nacional de Fotografia de Pierre Verger com o projeto O Suicídio do Meu Pai.

Texto publicado no catálogo da exposição Fotonovela: Sociedade/Classes/Fotografia, que aconteceu no Itaú Cultural, em São Paulo, em 2014.


Video
Duration 8 min

Brazil is the country with the largest number of domestic workers in the world, almost 7 million, whose work routine has only recently, with the so-called PEC das Domésticas, a bill that regulates the rights of the category, taken centre stage in living room discussions.

Historically disregarded as a working class, by being aggregated as ‘part of the family’, domestic workers have for a long time updated the notions of the big house and the slave quarters in thousands of Brazilian homes. The inequalities and fragile relationships that permeate the daily lives of these women and their employers are the subject of Doméstica, by André Penteado. ‘Interested in investigating this subject, I searched YouTube for videos about it. Searching using the words ‘maid’ and ‘domestic worker’, I collected a total of 14 hours of images that included broadcast TV programmes, recruitment and training videos for domestic workers, as well as personal videos,’ says the artist.

The first result of this process is an eight-minute film in which the mixture of images from soap operas, news programmes, game shows and interview programmes make up a shifting discourse that reveals, from the perspective of the ruling classes, an image of the domestic worker that oscillates between prejudice, stereotyping and naivety. The aim is to question the position and, why not, the imagery surrounding this category in the Brazilian cultural landscape.

About the process of making the work, the artist explains: ‘In order to depersonalise the video, the images were blurred – which ends up expressing a certain idea of social myopia – and their speed was slowed down by 50%. This process made the characters’ voices drag, causing a comic and, at the same time, uncomfortable effect.’

André Penteado’s work is characterised by themes such as suicide, migration, politics and society. His work has already been exhibited in the UK and Argentina, and in 2013 he was awarded the Pierre Verger National Photography Prize for his project My Father’s Suicide.

Text published in the catalogue of the exhibition Fotonovela: Sociedade/Classes/Fotografia, which took place at Itaú Cultural in São Paulo in 2014.