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Duração 8 min
O Brasil é o país com maior número de empregadas domésticas do mundo, quase 7 milhões de trabalhadoras, cuja rotina de trabalho só recentemente, com a chamada PEC das Domésticas, projeto que regulamenta os direitos da categoria, ocupou o centro das discussões na sala de estar.
Historicamente desconsideradas como classe trabalhadora, ao ser agregadas como “parte da família”, as domésticas atualizaram por muito tempo as noções da casa-grande e da senzala em milhares de lares brasileiros. As desigualdades e as frágeis relações que atravessam o cotidiano dessas mulheres e de seus patrões são tema da obra Doméstica, de André Penteado. “Interessado em investigar esse assunto, procurei no YouTube vídeos a respeito. Realizando buscas utilizando as palavras ’empregada’ e ‘domésticas’, coletei um total de 14 horas de imagens que incluíam programas de TV aberta, vídeos de recrutamento e treinamento de domésticas, além de vídeos pessoais”, conta o artista.
O primeiro resultado desse processo é um filme de oito minutos no qual a mescla de imagens de novelas, telejornais, game shows e programas de entrevistas compõe um discurso movediço que revela, sob a óptica das classes dominantes, uma imagem da doméstica oscilante entre o preconceito, o estereótipo e a ingenuidade. Trata-se de questionar a posição e, por que não?, o imaginário em torno dessa categoria na paisagem cultural brasileira.
Sobre o processo de feitura da obra, o artista explica: “Para despersonalizar o vídeo as imagens foram desfocadas – o que acaba por exprimir certa ideia de miopia social – e sua velocidade foi diminuída em 50%. Esse processo fez com que a voz dos personagens ficasse arrastada, causando um efeito cômico e, ao mesmo tempo, desconfortável”.
O trabalho de André Penteado é marcado por temas como o suicídio, a migração, a política e a sociedade. Suas obras já foram exibidas no Reino Unido. e na Argentina e, em 2013, recebeu o Prêmio Nacional de Fotografia de Pierre Verger com o projeto O Suicídio do Meu Pai.
Texto publicado no catálogo da exposição Fotonovela: Sociedade/Classes/Fotografia, que aconteceu no Itaú Cultural, em São Paulo, em 2014.