Suicídio De Meu Pai / Dad's suicide

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Photofusion Photography Centre – Londres (2011)

Meu pai, José Octávio, tinha 72 anos quando cometeu suicídio em 31 de janeiro de 2007, em São Paulo. Quando isto ocorreu, eu vivia há um ano em Londres. Durante este período, telefonemas e e-mails eram nossa única forma de contato.

Logo após receber a notícia, peguei minha câmera e comecei a fotografar. Foi uma maneira impulsiva e imediata de lidar com o acontecido. No dia seguinte, de manhã, voei para São Paulo. Chegando lá, fui diretamente do aeroporto para o velório, onde continuei fotografando, parando somente ao fim do funeral no dia seguinte.

Duas semanas mais tarde, ao experimentar algumas camisas de meu pai, percebi que elas ainda continham fios de seus cabelos e seu perfume. Decidi então levar todas as suas roupas para um estúdio e me fotografar vestindo-as. Após um ano sem nenhum contato físico, senti como se o abraçasse pela última vez.

Ao final daquele dia, vi jogados no chão do estúdio todos os seus cabides vazios e resolvi fotografá-los contra um fundo branco.

Depois de um mês em São Paulo, retornei a Londres. Lá, ao longo dos anos seguintes, carregando uma pequena câmera digital, produzi milhares de fotos. Em 2011, resolvi editar estas imagens e me dei conta que, entre fotos normais do dia a dia, uma concentração de imagens tristes, como objetos quebrados, lugares abandonados e ruas escuras. Percebi que de uma forma inconsciente eu expressava o meu luto.

Ao trabalhar em um livro de artista contendo as fotos do funeral, para uma exposição que realizaria em Londres, decidi incluir nele cópias das quatro cartas que meu pai havia deixado. Baseado em uma delas eu criei a última obra deste projeto: uma escultura em néon de sua assinatura. Como a carta era uma das últimas ações da sua vida e continha a última vez que assinara seu nome, percebi que aquelas letras possuíam um significado poderoso: com essa formalidade meticulosa, ele queria nos assegurar que ele estava certo sobre sua decisão.

O projeto O Suicídio de meu pai foi premiado com o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger em 2013 e, no ano seguinte, foi transformado em livro.


Photofusion Photography Centre – London (2011)

My father, José Octávio, was 72 years old when he committed suicide on 31 January 2007, in São Paulo. When this happened, I had been living in London for a year. During this period, phone calls and e-mails were our only form of contact.

Soon after receiving the news, I took my camera and started to photograph. It was an impulsive and immediate way of dealing with what had happened. The next day, in the morning, I flew to São Paulo. Arriving there, I went straight from the airport to the wake, where I continued photographing, stopping only at the end of the funeral the next day.

Two weeks later, when I tried on some of my father’s shirts, I noticed that they still contained strands of his hair and his perfume. I decided to take all his clothes to a studio and photograph myself wearing them. After a year without any physical contact, I felt as if I were hugging him for the last time.

At the end of that day, I saw all his empty hangers lying on the studio floor and decided to photograph them against a white background.

After a month in São Paulo, I returned to London. There, over the following years, carrying a small digital camera, I produced thousands of photos. In 2011, I decided to edit these images and realised that among normal everyday photos, a concentration of sad images, such as broken objects, abandoned places and dark streets. I realised that in an unconscious way I was expressing my mourning.

When working on an artist’s book containing the photos of the funeral, for an exhibition I would hold in London, I decided to include in it copies of the four letters my father had left. Based on one of them I created the last work of this project: a neon sculpture of his signature. As the letter was one of the last actions of his life and contained the last time he had signed his name, I realised that those letters held a powerful meaning: with this meticulous formality, he wanted to assure us that he was right about his decision.

The project My Father’s Suicide was awarded the Pierre Verger National Photography Prize in 2013 and the following year it was turned into a book.