Declaração de artista / Artist statement

Sou artista visual e trabalho principalmente em fotografia, mas também utilizo vídeo e, eventualmente, texto. Meus projetos são de longo prazo e geralmente têm um tema guarda-chuva que se desdobra em vários trabalhos. Além de exposições e instalações, eles também se materializam como livros de artista.

A ideia central que percorre meu trabalho é que, para navegar na complexidade da vida, criamos narrativas. Isto significa privilegiar um grupo de informações sobre outro: a realidade é composta de várias versões que estão constantemente em conflito, sendo algumas mais poderosas do que outras.

Estou interessado no trauma tanto social quanto individual. Produzo narrativas históricas, nas quais a ideia de esquecimento e o papel político das mídias que utilizo se revela, estando elas intimamente relacionadas à ideia da construção da memória.

Ao escolher meus temas – como o luto por suicídio, fatos da história brasileira pré-fotográfica, relações de classe no Brasil ou o impacto psicológico sofrido pelo indivíduo que imigra – parto de pesquisas em áreas como a micro-história, sociologia e psicologia para criar “listas de imagens possíveis”. Estas listas contêm lugares, objetos, pessoas e situações que de alguma forma conectam meu tema abstrato com a realidade.

Trabalho com fotografia direta e muitas vezes uso flash, o que elimina grande parte da sombra da imagem, permitindo-me ver partes dela que de outra forma estariam escondidas. Isto funciona como uma metáfora para o processo de poder ver o que historicamente foi apagado das narrativas oficiais. Eu crio uma imagem que oscila entre o técnico e o “snapshot”, uma espécie de fotografia forense-espontânea.

Quando trabalho em vídeo, utilizo estratégias simples, tais como: regravar um filme 30 vezes ou fazer entrevistas que contenham apenas uma pergunta e gravar apenas as mãos dos participantes. Meu objetivo é criar um trabalho que permaneça complexo para que o espectador tenha pontos de partida para refletir sobre como o presente – pessoal e social – foi e é constantemente construído.

I’m a visual artist, primarily working in photography, but also incorporating video and occasionally text. My projects are long-term and typically revolve around an overarching theme that unfolds across various works. In addition to exhibitions and installations, they also materialize as artist books.

The central idea running through my work is that, to navigate life’s complexity, we construct narratives. This means privileging one set of information over another: reality is composed of multiple conflicting versions, with some being more powerful than others.

I’m interested in both social and individual trauma. I produce historical narratives where the notion of forgetting and the political role of the media I use are revealed, intimately linked to the idea of memory construction.

In selecting my themes—such as mourning suicide, pre-photographic Brazilian history, class relations in Brazil, or the psychological impact of immigration—I draw from research in areas like microhistory, sociology, and psychology to create “lists of possible images.” These lists contain places, objects, people, and situations that somehow connect my abstract theme with reality.

I work with direct photography and often use flash, which eliminates much of the image’s shadow, allowing me to see parts that would otherwise be hidden. This serves as a metaphor for the process of uncovering what has historically been erased from official narratives. I create an image that oscillates between the technical and the snapshot, a kind of forensic-spontaneous photography.

When working in video, I employ simple strategies such as: re-recording a film 30 times or conducting interviews with only one question and filming only the participants’ hands. My aim is to create work that remains complex so that the viewer has starting points for reflecting on how the present—both personal and social—has been and is constantly constructed.