Cabanagem (2015) / Cabanagem (2015)

Cabanagem (2015)

Fotolivro

Livro verde: 30,5 x 25 cm / 152 páginas / 90 fotografias coloridas
Livro vermelho: 25 x 21 cm / 56 páginas / 26 fotografias coloridas
Editora Madalena / 1500 exemplares / Design: Atlas / Texto: Magda Ricci / ISBN 978-85-65709-12-5

Cabanagem é a primeira parte do projeto de longo prazo Rastros, Traços e Vestígios que engloba, também, Missão Francesa (2015) e Farroupilha (2020) e que foi pensado como uma pentalogia que se completará com os livros Independência e Invasão.

O projeto foi criado a partir da ideia de que se pode pensar a existência de um paralelo entre o trabalho do fotógrafo e o do historiador: se tanto a fotografia quanto a historiografia, a princípio, partem da realidade – de algo que estava presente na frente da câmera e de um fato que ocorreu – pode-se dizer, em contrapartida, que ambas são resultados de decisões ideológicas daqueles que as produzem. Apesar disso, as duas são, muitas vezes, compreendidas como “verdades”.

A um acontecimento histórico é dado um nome específico, o que o faz parecer uma espécie de fato indubitável e bem delimitado. Porém, ele é o resultado do desdobramento de um número infinito de ações individuais e coletivas, tanto planejadas quanto inconscientes. E, a partir delas, um outro número infinito de consequências se revela, sendo que a maior parte delas não encontra lugar nas narrativas. Então, o desconhecido constitui uma dimensão significativa da história.

Interessa-me refletir sobre a dualidade entre a complexidade da realidade e a necessidade política de produzir sínteses.Assim, penso a história como um acúmulo de camadas de interpretação criadas pelos mais diversos atores políticos.

Foi relevante na escolha dos temas do projeto, o fato de não possuírem iconografia fotográfica de época, pois não ter que dialogar com fotografias históricas me propiciou maior liberdade na criação de imagens que conectassem presente e passado.

Todas as fotografias do projeto tiveram alguma relação com os fatos que os inspiraram, que foram dos mais diversos tipos: um local onde algo ocorreu, um lugar que foi nomeado para homenagear esse fato, um documento sobre o ocorrido, o local onde o documento é guardado, o descendente de um personagem que participou do caso, um monumento homenageando esse personagem, um quadro representando essa figura, a pessoa que garante a segurança desse quadro, pessoas que homenageiam esse fato, a comida que elas comem ao celebrar esse ocorrido e assim por diante.

Os livros do projeto são acompanhados por textos de historiadores sobre os eventos abordados, mas estes não fazem referência direta às fotografias. Neste projeto, foto e texto coexistem em paralelo, deixando aos leitores a tarefa de realizarem suas próprias conexões.

Cabanagem, o primeiro capítulo do projeto Rastros, Traços e Vestígios, trata de uma das maiores revoltas da história brasileira. A revolução cabana teve origem popular, sendo sua principal causa o domínio econômico dos portugueses na região amazônica, mesmo após a independência do Brasil. O levante ocorreu de 1835 a 1840 e, após um início vitorioso no qual os revolucionários mataram o governador da província do Grão-Pará e tomaram o poder na região por um ano, o movimento foi violentamente reprimido pelo governo imperial, resultando em mais de 30 mil mortes. Apesar de seu perfil popular e de sua escala, a sua história é virtualmente desconhecida no país.

Todas as imagens que compõem Cabanagem foram realizadas na região amazônica e possuem algum nível de conexão com a história da revolução e de seus desdobramentos no presente.

Cabanagem é composto por um conjunto de dois livros – um maior de capa verde e outro menor de capa vermelha – e um jornal que vem dentro de um envelope de documentos. O livro verde contém somente fotografias de lugares e não possui nenhuma legenda, além da informação “Grão-Pará 1835-1840” em sua última página. Já o livro vermelho possui retratos de pessoas acompanhados por legendas que, algumas vezes, incompreensíveis para quem não conhece a história da Cabanagem. O jornal contém o texto “Para Ver a Cabanagem”, escrito pela historiadora Magda Ricci especialmente para o livro, discutindo a relevância da história cabana para o presente da Amazônia.

O primeiro capítulo de Rastros, Traços e Vestígios é baseado em dois eixos: a perpétua e violenta exploração da região amazônica e de sua população e o esquecimento e o apagamento histórico de revoltas populares no Brasil.

Cabanagem foi incluído na lista de melhores fotolivros nos sites Time Lightbox e Photoeye em 2015, e venceu, em 2019, o Prêmio Chico Albuquerque de Fotografia, um dos mais importantes do Brasil.

Cabanagem (2015)

Photobook

Green Book: 30,5 x 25 cm / 152 pages / 90 colour photographs
Red Book: 25 x 21 cm / 56 pages / 26 color photographs
Editora Madalena / 1500 copies / Design: Atlas / Text: Magda Ricci / ISBN 978-85-65709-12-5

Cabanagem is the first part of the long-term project Rastros, Traços e Vestígios (Tracks, traces and vestiges), which also includes Missão Francesa (2017) and Farroupilha (2020) and which was conceived as a pentalogy that will be completed with the books Independência (Independence) and Invasão (Invasion).

The project was based on the idea that a parallel can be thought to exist between the photographer’s work and that of the historian: if both photography and historiography, in principle, are based in reality — on something that was present in front of the camera, and of a fact that took place —, one could say that, on the other hand, both are the result of ideological decisions made by those who produce them. Despite this, both are often seen as “truths”.

A historical event is given a specific name, which makes it seem like some sort of indubitable and well-defined fact. However, an event is the result of the unfolding of an infinite number of individual and collective actions, both planned and unconscious. And, based on these, another infinite number of consequences are revealed, most of which have no place in the narratives. Thus, the unknown makes up a significant dimension of history.

I am interested in reflecting on the duality between the complexity of reality and the political need to produce syntheses. Therefore, I think of history as an accumulation of layers of interpretation created by the most diverse political actors.

It was relevant in choosing the themes of the project, the fact that they do not have photographic iconography of the time, since not having to dialogue with historic photographs allowed me more freedom in creating images that connected present and past .

All the photographs in the project relate in some way to the wide variety of facts that inspired them: a location where something happened, a place nominated to honor this fact, a document on the event, the location where the document is stored, the room where it is studied, the descendant of a character who took part in the event, a monument honoring that character, a painting that represents them, the person who safeguards that painting, the people who honor that fact, the food they eat to celebrate the event, and so on.

The project’s books are accompanied by texts by historians about the events covered, but these do not make direct reference to the photographs. In this project, photo and text coexist in parallel, leaving readers to make their own connections.

Cabanagem, the first chapter of the Rastros, Traços e Vestígios project, deals with one of the biggest revolts in Brazilian history. The Cabanagem revolution was popular in origin and its main cause was the economic domination of the Portuguese in the Amazon region, even after Brazil’s independence. The uprising took place from 1835 to 1840 and, after a victorious start in which the revolutionaries killed the governor of the province of Grão-Pará and took power in the region for a year, the movement was violently repressed by the imperial government, resulting in more than 30,000 deaths. Despite its popular profile and scale, its history is virtually unknown in the country.

All the images that make up Cabanagem were taken in the Amazon region and have some level of connection with the history of the revolution and its unfolding in the present.

Cabanagem is made up of a set of two books – a larger one with a green cover and a smaller one with a red cover – and a newspaper that comes in a document envelope. The green book contains only photographs of places and has no caption, apart from the information “Grão-Pará 1835-1840” on its last page. The red book, on the other hand, contains portraits of people accompanied by captions that are sometimes incomprehensible to those who don’t know the history of the Cabanagem. The newspaper contains the text “Para Ver a Cabanagem”, written by historian Magda Ricci especially for the book, discussing the relevance of the Cabano history for the present in Amazonia.

The first chapter of Rastros, Traços e Vestígios is based on two axes: the perpetual and violent exploitation of the Amazon region and its population, and the forgetting and historical erasure of popular uprisings in Brazil.

Cabanagem was included in the list of best photobooks on the Time Lightbox and Photoeye websites in 2015, and in 2019 it won the Chico Albuquerque Photography Award, one of the most important in Brazil.